sexta-feira, 31 de maio de 2013

Um sonho que aos poucos se torna realidade.

Aos poucos o sonho  da construção da Igreja Presbiteriana de Cajazeiras-PB torna-se realidade. Este sonho foi alimentado pelos pioneiros da pregação há mais de 50 anos, depois por aqueles que reativaram os trabalhos em 1996, são muitos nomes, não dá para enumerar. Desde o Presbitério da Borborema até o atual Presbitério Oeste da Paraíba, muitos sonharam, muitos trabalharam e também oraram. Mas, a bíblia diz que tudo tem seu tempo (Ec. 3.1), assim, as portas se abrem e a obra inicia-se, ainda que humildemente pois, os recursos são poucos.
O sonho continua  mas, enquanto a igreja sonha, também ora, trabalha e espera sempre na vontade de Deus ao afirmar "...faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu..." (Mt.6.10). A realidade chega e a vontade do Senhor se concretiza,  em Cajazeiras,  a terceira maior cidade do Sertão da Paraíba,  no dia 20 de maio de 2013 começa a primeira fase da construção,  a fundamentação do edifício. Seja o Senhor sempre glorificado  "Soli Deo Glória"

Rev. Clodoaldo Brunet

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Entrevista com o Pr. Valter Graciano



1. Projeto Os Puritanos: Quando e como começou sua trajetória como tradutor?

Resposta: Ao longo de meu ministério por várias igrejas, em Minas e em Goiás, eu já lia em espanhol e inglês a Bíblia e outros livros. Foi daí que veio surgindo o anseio de um dia aprender a traduzir. Cheguei a traduzir, à moda de arremedo, boa parte da primeira edição das Institutas, em espanhol, seguindo mais o desejo de ver esta obra em nosso idioma. Um forte anseio me consumia. Muito do que lia, em seguida traduzia. Por exemplo, em minhas primeiras leituras da Teologia Sistemática de Berkhof ainda em espanhol (li esta obra toda algumas vezes), ia traduzindo aquilo que pudesse ajudar-me a gravar mais intensamente na memória o conteúdo da obra.
Mas foi em meu pastorado numa pequena cidade goiana, Ceres, que encarei decisivamente a tarefa de traduzir livros de convicção profundamente calvinista. Naquele tempo ainda era pouca a produção de obras de cunho reformado. Foi então que traduzi o precioso livro de William Hendriksen, Mais que Vencedores. Assim que cheguei em São Paulo, ele foi publicado. A tradução foi muito precária, por isso se fez dele uma nova, e, por sinal, muito boa. Essa é a origem da publicação dos comentários neotestamentários de Hendriksen/Kistemaker que temos hoje.
Chegando a São Paulo como um dos diretores da Editora Cultura Cristã, além de assumir a preparação das revistas dominicais e de revisar outros livros, assentei no coração aperfeiçoar minhas traduções, o que consegui plausivelmente com a ajuda do grande teólogo e colega Rev. Sabatine Lali. Certo dia ele declarou que minha tradução de determinado livro ficaria melhor no lixo. E ele estava coberto de razão. No momento, fiquei arrasado, porém não desisti. E foi assim que começou minha trajetória de tradutor. Aliás, nunca digo que sou tradutor, e sim que traduzo, que são duas coisas distintas. E esses primórdios me serviram de grande instrução e preparo.

2. PP: O que o motivou a traduzir as obras de João Calvino?

Resposta: Enquanto ia traduzindo os comentários de William Hendriksen (pois fui eu que introduzi essa notável obra em nosso idioma), em meu universo interior foi se delineando um profundo desejo de ver o Reformador falando nosso idioma. O que principalmente me levou a esse anseio? Quando cheguei em São Paulo para trabalhar na ECC, estava em processo a tradução das Institutas, feita pelo Dr. Waldir Carvalho Luz. Tive que ler aquela tradução toda; e à medida que avançava na leitura, mais entendia que ninguém iria ler a obra naquela linguagem. Em meio à minha grande frustração e pesar, sentia que era preciso traduzir as obras do Reformador numa linguagem em que todos pudessem ler, pois foi esse o objetivo do Reformador. Enquanto escrevia, ele queria que todos entendessem. Isso tinha que ser feito, porém não atinava para a possibilidade. Com quem falava a respeito, me olhavam de modo indagador, com certo espanto. Alguns, entre os mais íntimos, diziam que eu era um sonhador. Não faltou quem dissesse que eu era maluco. Além de ser dispendiosa demais, já não havia necessidade de se produzir uma obra tão volumosa e dispendiosa. Todo argumento que meus amigos usavam para me dissuadir, era como faíscas a incendiar mais minha mente e coração. Eu sempre cria que era viável e mesmo indispensável. 

3. PP: Quais as dificuldades para se traduzir Calvino?

Resposta: No tocante a mim, a primeira dificuldade estava em mim mesmo. Meu recurso literário era então muito mais fraco do que hoje. A linguagem das obras do Reformador é muito erudita. Abria um livro a esmo e tentava ler e desistia. A segunda dificuldade era o fato de que eu só poderia traduzir do inglês, e não dos originais latim e francês. Ainda quando a tradução para o inglês fosse muito bem feita, todavia teria que produzir uma tradução de tradução. Terceiro, A obra é vasta demais para ser produzida em sua totalidade. A editora naquele tempo estava dando seus últimos e moribundos suspiros, e logo morreu. Quarto, jamais teria encontrado, naquele momento, pessoas para formar uma equipe na elaboração da obra. Quinto, naquele momento, com certeza o Conselho Editorial não iria aprovar meu projeto. Sexto, fui demitido da Editora e fiquei a enfrentar meus conflitos pessoais, agora com menos recurso ainda. Enfim, eu era um homem sozinho, tentando chegar na praia, quando ainda estava em alto mar, sem ver nenhuma tábua de salvação. Mas a maior dificuldade de se traduzir Calvino é a indiferença da “igreja” para com aquilo que lhe pertence de direito. Até onde pude perceber, a igreja nunca sentiu necessidade de fazer o Reformador falar nosso idioma para ser lido pelos brasileiros. Se a igreja quisesse, teria começado esta obra desde o início, pois ela sempre teve recursos financeiros para as outras coisas!  

4. PP: Como se sente, como brasileiro, quando está traduzindo as obras tão antigas do mestre e reformador de Genebra? 

Resposta: Esta é uma indagação muito complexa, pois ela lida com um universo subjetivo. Enquanto traduzo essas obras grandiosas, sinto-me precipitado no espaço sideral, continuamente aturdido pelo conteúdo delas, em profunda convivência com o doutor genebrino. 
Certo colega perguntou-me se não me sentia vaidoso em ver boa parte dessas obras já nas estantes dos leitores. Minha resposta foi que, muito embora essa tendência fosse real em mim, porém, mesmo que deixasse a vaidade entrar e dominar minha vida interior, não conseguiria, porque, convivendo com Calvino, sua vida, sua atitude, sua grandeza sempre esmagaram meu ego. Pois é difícil encontrar um homem com um coração mais piedoso do que foi João Calvino. 
É verdade que tenho consciência da grandeza de tal empreendimento. Além das Institutas e de umas pequenas obras do Reformador, tudo mais dele que lemos em português é de minha lavra. De vez em quando recebo correspondência de colegas que expressam seus sentimentos pelo que faço, às vezes me causando profunda comoção. Por isso sou imensamente grato ao Senhor da Igreja por me escolher para essa atividade, pois ele poderia (ou, digamos, deveria) ter escolhido a quem de direito, no entanto lhe aprouve servir de minha pessoa tão despreparada para essa prestação de serviço à sua igreja. Meu drama é que, enquanto realizo esse divino trabalho, quase não tenho com quem partilhar tão imensa bênção. São poucos com quem tenho o prazer de dialogar e ser correspondido. Às vezes quase explodo de emoção e não encontro alguém para dividir isso. Mesmo assim, sinto-me como o homem mais abençoado da terra por receber esse mandado da parte do Senhor da Igreja. Que bênção é Deus me usar para facultar aos brasileiros a leitura das obras de João Calvino, ainda que seja um trabalho deficitário!
O drama é ainda mais intenso quando me lembro de minha origem e de minha trajetória. Estritamente falando, não possuo nada, absolutamente nada, que me qualifique para esse empreendimento. No entanto, foi a mim que o Senhor escolheu para esse fim. Todo esse aparato negativo dissipa a tendência natural de envaidecer-me. Ainda mais, eu seria um mísero homem se deixasse a vanglória dominar-me. Por isso, tenho sempre em mente o texto de Paulo, em 1 Coríntios 1.26-29, que termina: “A fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.” 

5. PP: Qual a importância destas traduções para a Igreja brasileira? 

Resposta: Sendo o povo brasileiro de cultura religiosa essencialmente católico-romana, que desde a fundação da nação procurou desfigurar a imagem dos reformadores do século dezesseis, fazer Martinho Lutero e João Calvino falarem aquilo que realmente falaram e serem o que realmente foram é de grande importância para que nosso povo aprenda a apreciar esses vultos da Igreja em sua integridade, sem distorção, sem adulteração, sem fuligem. 
Quando me propus verter para a língua brasileira as obras de João Calvino, meu intuito primordial não foi que todos abraçassem integralmente o pensamento teológico do Reformador de Genebra, mas que suas obras fossem conhecidas, confrontadas, e o leitor pudesse decidir sobre sua aceitação ou não com pleno conhecimento de causa. Em geral, cita-se o Reformador como havendo dito o que não disse e tendo feito o que não fez. É oportuno lembrar que João Calvino, como os demais reformadores, não foi infalível em tudo quanto fez, ensinou e escreveu. Infalíveis foram os escritores da Bíblia. Há detalhes no ensino de Calvino com os quais não concordo. Mas esses detalhes de sua interpretação de modo algum ferem o grandioso todo de sua interpretação da Bíblia e da fé cristã. Em suma, o povo brasileiro precisa conhecer o Reformador para que, quando discordar dele, possa justificar seus motivos. Creio que, com isso, muitos presbiterianos passarão a admirar o Reformador. 

6. PP: Olhando para as obras de Calvino e o presbiterianismo de hoje, o que o alegra e o que o entristece?

Resposta: O que me alegra é a grande ênfase que hoje o presbiterianismo está pondo na fé reformada, e tem feito grande empenho para disseminar o calvinismo, quer na confissão pública, quer na literatura, quer na celebração eclesiástica. Temos hoje grandes mestres que não só defendem a fé reformada, mas eles mesmos escrevem grandes obras e inclusive biografias de João Calvino. São teólogos genuinamente calvinistas. Não só os presbiterianos fazem isso, mas muitos de outras confissões.
O que me entristece é o fato do presbiterianismo medrar em solo brasileiro com o substrato calvinista, porém sem a presença maciça do Reformador genebrino. Se o evangelismo presbiteriano brasileiro florescesse com as Institutas do Reformador nas mãos, certamente a igreja seria muito mais robusta. Não precisaria mais que isso para o presbiterianismo ser, talvez, a maior força do povo evangélico.
Entristece-me o fato de que o presbiterianismo, em si, nunca se moveu positivamente na direção de ajudar-me na expansão das obras de João Calvino. A instituição, propriamente dita, nunca me estendeu a mão ou nunca dirigiu uma palavra oficial abonando meu trabalho ou mandando-me parar a fim de que as autoridades teológicas assumam o comando e façam a coisa certa: produzir as obras do Reformador diretamente dos originais. 
Além do mais, é doloroso ver e ouvir de grandes vultos que insistem em permanecer no seio do presbiterianismo, não sendo realmente presbiterianos. Os concílios têm permitido a permanência desses vultos em seu seio. E esses vultos têm contribuído para a deformação da igreja. E eles, por sua vez, não têm oferecido algo melhor que o calvinismo tem. Sua contribuição distorcida não faz a igreja se agigantar; apenas a faz mudar de rumo e de caráter. Não sou contra alguém pensar de modo adverso do calvinismo; sou contra, sim, a igreja tolerar que ensinos distorcidos medrem em seu seio sem reagir. Quem não é presbiteriano deveria estar em outros meios, não no meio presbiteriano. Consistência é algo mui belo!

7. PP: O que mais lhe chama a atenção no caráter do escritor João Calvino? 

Resposta: É sua piedade, convicção e persistência. Além de oferecer seu coração inteiro ao Senhor da igreja, bem como cultivar a mais vera piedade que um cristão pode fazer, ele, desde o início, cultivou a mais profunda convicção de haver sido chamado pelo Deus eterno para ser o reformador de sua igreja. Por isso mesmo, sua persistência, em meio à mais feroz perseguição, o engrandece sem paralelo. Assim como Lutero foi o Cisne da Reforma, segundo a profecia de João Us, João Calvino foi a Águia da Teologia Reformada. E isso se deve à sua profunda piedade, à sua inabalável convicção e à sua inamovível persistência em seguir adiante. Isso nos faz entender por que, quando foi expulso de Genebra, saiu em silêncio e foi para Strasburg em continuação de sua obra de reforma ali. Ao ser chamado de volta às lides genebrinas, chorando afirmou que tinha de voltar para seu inferno até concluir ali sua obra começada. E, ao assumir novamente o púlpito genebrino, convidou o povo a ler com ele o mesmo versículo onde havia interrompido sua exposição. 
Calvino não nutria dúvida acerca de sua vocação ministerial. Essa convicção deveria ser o carro chefe do ministério de todos os pastores atuais. Temos em João Calvino matéria suficiente para tornar o ministério pastoral brasileiro a força mais edificadora e demolidora que se pode imaginar. Edificando a Igreja e demolindo os aríetes dos inimigos. 

8. PP: Que recomendação faz ao leitor de Calvino? 

Resposta: Eu começaria com os não-leitores dele. Com aqueles que acreditam que não têm que ler as obras do Reformador, sem terem consciência do que estão perdendo. Acreditam que as obras teológicas modernas são muito mais substanciosas. Não atinam para o fato de que os autores dessas obras estão se nutrindo do Reformador genebrino. Meu conselho, se é que tenha algum peso, é que passem a degustar o conteúdo dessas obras. 
Aos leitores do Reformador, meu conselho é que intensifiquem essas leituras e pesquisas. Que procurem ir fundo no raciocínio desse grande teólogo. Assimilem ao máximo. Não têm que ficar apenas citando o nome do Reformador, nem apenas declarando que lê-lo é essencial à vida cristã. Não precisam divulgá-lo de modo apaixonado. Não seguimos o Reformador genebrino. Nosso supremo Mestre é nosso Senhor Jesus Cristo. É a teologia do Reformador que temos de incrementar na igreja, como sendo a melhor e mais fiel interpretação da Santa Escritura. Ser calvinista é encarar a Bíblia tal como é, sem redução nem acréscimo; sem fantasia nem negação. O Reformador nos dá grande exemplo de como devemos crer na Bíblia. Daí, os genuínos calvinistas não põem em dúvida nenhum texto sagrado. O que lhe parece absurdo, ele abraça ainda mais e busca maior percepção do que está lá. 

9. PP: Até onde vai sua esperança em uma reforma na Igreja brasileira?

Resposta: Já entrevejo essa reforma se concretizando no seio daqueles grupos evangélicos que antes repeliam a visão reformada do Cristianismo. Principalmente a Assembleia de Deus tem abraçado em maior escala a fé reformada. Quando ainda tinha Edições Parakletos, meu maior freguês eram os seminários da Assembleia de Deus. Por exemplo, aqui em Goiânia há um grande avanço em direção à teologia reformada nos seminários e igrejas assembleianos. Os pastores que conheço declaram a plenos pulmões que sua convicção é reformada. 
Soube ainda que há o mesmo movimento entre as Igrejas Cristãs Evangélicas. E é possível que esse movimento se expanda aonde ainda não o vemos. Sem querer ser presunçoso, quando comecei a editar as obras do Reformador genebrino, minha principal meta era alcançar as igrejas de convicção arminiana. E creio que o efeito de meu trabalho está surgindo, muito embora as obras do Reformador publicadas ainda sejam em pequena escala e ainda não chegaram a todos os rincões. Mas gostaria que todos soubessem que algumas dessas obras já atingiram a terceira edição. Hoje temos no Brasil três versões das Institutas: duas editadas pela Editora Cultura Cristã e outra editada pela UNESP, editora secular. E creio que essas edições estão circulando em grande escala por todo o território nacional e até mesmo internacional. A Editora Fiel, a qual publica minhas traduções, tem disseminado essas obras em todos os países de língua portuguesa. Ela tem facilitado a aquisição dessas obras em todo o Brasil. Nunca poderíamos imaginar que João Calvino viesse a ser tão popular em solo brasileiro. 
Para mim, em particular, isso significa um genuíno reavivamento, o qual não se dá na esfera das emoções, e sim do intelecto. A visão calvinista da Bíblia revoluciona a vida em sua inteireza. Só existe reavivamento legítimo quando a fé é posta em prática; ela é um sistema que leva o indivíduo a viver a religião de Jesus. Quando a religião permanece na esfera emocional, não há produção de frutos; mas quando atinge a esfera do raciocínio, leva o indivíduo a pensar no que Jesus ensinou e viveu, então sua vida sofre a mais salutar revolução espiritual e moral.


10. PP: Quando conclui uma tradução de Calvino, que súplica faz a Deus? 

Resposta: Quero que o leitor saiba que cada obra de Calvino que traduzo constitui um universo para minha mente e espírito. Ora mergulho num oceano sem fundo, ora sinto ter asas e me precipito no espaço sideral e de lá não quero voltar, ora sinto na exposição do Reformador genebrino uma atmosfera musical que soa como a maviosa harpa, o violino, o piano, e trabalho o tempo todo sob os efeitos dessas músicas celestiais. Ele consegue me submergir nas próprias ideias bíblicas, levando-me a ver o que está lá, porém até então não havia percebido. 
Isso me leva a orar mentalmente, sem cessar. Com muita frequência paro a tradução e, dominado pela emoção, prorrompo em oração de ação de graças e oro que os leitores sintam a mesma coisa. Todos os dias começo meu trabalho rogando que o Senhor da igreja estique um pouco mais minha vida terrena para terminar todas as obras do Reformador genebrino. Quando termino um volume, dou graças, olho para o alto e dou um grito: Aleluia! Agradeço-lhe em me usar, o menor de todos os servos de Cristo, o menos competente para tal empreendimento, e rogo que use meu modesto trabalho para a mudança da vida dos filhos de Deus e para que muitos incrédulos venham à verdadeira fé por meio desse humilde trabalho. 
Aproveito o ensejo para contar em poucas palavras que, quando terminei o terceiro volume da Harmonia da Lei, meu computador deu uma pane e apagou completamente tudo o que estava nele. Quase tudo foi salvo porque mantenho um HD externo com tudo gravado nele. Mas esse volume não fora gravado ali. Foi usada toda a tecnologia moderna na tentativa de recuperação da pasta. Quase quinhentas páginas perdidas. Faltou pouco para entrar em pânico. O desalento fulminou minha alma. Passaram-se uns quinze dias, quando certa manhã assentei-me diante do computador, e, sob o efeito de algo que li em algum lugar, que dizia: “Quem desiste de lutar nunca tem razão”, olhei para o alto e disse ao Senhor: “Meu Deus, renova meu ânimo para fazer de novo esta tradução como se fosse a primeira vez”. Com os olhos marejados, com o coração aos saltos, com o volume aberto diante de mim, no mesmo lugar de antes, recomecei a tradução com o mesmo ânimo e a mesma gratidão. Sabia que havia nisso um propósito divino. Cerca de dois meses depois estava com a nova tradução concluída – e valeu a pena! 
Tenho a consciência de que sou o homem mais privilegiado do Brasil. Não sinto vaidade; sinto gratidão. Quem mantém convívio com Calvino, através de suas obras, não consegue envaidecer-se, porquanto está em contato indireto com um dos homens mais humildes que a igreja já teve em seu seio. Quando descobri que ele ordenara que sua sepultura fosse mantida no anonimato, e que hoje não se sabe onde ela está, que sentimento devo nutrir em meu mísero coração? O que me sobra que me envaideça? É verdade que a tendência está aí, com boca escancarada para me tragar. Mas em minha mente está impressa uma terrível realidade: Sou apenas servo! Senhor é outro!
A Ele toda a glória! 
____________
Goiânia, 11 de abril de 2013
Valter Graciano Martins
O menor em Cristo     
Rev. Valter Graciano é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1964 tendo sido jubilado em 2009. Continua em pleno vigor de suas funções profissionais como renomado tradutor de dezenas de títulos e, em seu maior volume, das obras do grande reformador João Calvino. Casado com Dona Cremilda. Tem cinco filhos e dez netos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A irracionalidade do pecado




burro“Quando o meu coração estava amargurado e no íntimo eu sentia inveja, agi como insensato e ignorante; minha atitude para contigo era a de um animal irracional”  - Sl 73.21-22

A confissão acima foi feita por Asafe e diz respeito à forma como ele havia se comportado antes de voltar a si e perceber que Deus era bom para com os de coração puro (73.1). Mas o que havia acontecido?
Podemos verificar isso a partir do segundo versículo do Salmo. Asafe afirma que quase se desviou dos caminhos do Senhor por ter inveja dos arrogantes e perversos. Na cabeça dele, os ímpios estavam numa situação bem melhor que a sua. Eles eram prósperos, não tinham preocupações, eram sadios e fortes, estavam livres de fardos e não eram atingidos por doenças. Além disso, eles eram bem vistos e ouvidos pelo povo que se saciava com sua sabedoria. Asafe chega a afirmar que “assim são os ímpios; sempre despreocupados, aumentam suas riquezas” (73.12).
Diante disso, a conclusão parecia lógica: servir a Deus conservando o coração puro e lavando as mãos na inocência havia sido inútil, pois ele era afligido e todas as manhãs castigado (73.13,14). Era como se ele estivesse dizendo: Se Deus não me dá o que eu mereço, não vale a pena servi-lo.
Entretanto, por mais lógica que possa parecer essa conclusão, ela esta errada por alguns motivos:
1. Ela aponta para as benesses desta vida como essenciais para a felicidade – Asafe achava que seria plenamente realizado à medida que tivesse “coisas”. Ele estava tão seduzido pela prosperidade dos ímpios que se deixava enganar pela ilusão de que aqueles que têm posses materiais estão isentos dos problemas e aflições desta vida. Certamente você conhece pessoas que sofrem e que enfrentam doenças terríveis a despeito de serem abastadas financeiramente (A alegria está em Deus – 25).
2. Ela pressupõe que o servo de Deus seja merecedor de bênçãos – Ao dizer que foi inútil servir a Deus, está implícita a presunção de merecimento. Como ele poderia passar por privações e aflições enquanto ímpios tinham de tudo? Há aqui um coração orgulhoso e cobiçoso. Um coração que serve a Deus por aquilo que ele pode conceder e não por quem ele é.
Vi isso de perto quando eu cursava o seminário e tive de entrevistar o pastor de uma igreja neopentecostal para o trabalho de uma matéria. Uma das perguntas era se a oração muda a vontade de Deus. Após responder que sim, o pastor arrazoou e terminou dizendo: “Se a oração não muda a vontade de Deus é melhor servir ao diabo”. Em outras palavras, servirei a “quem dá mais”.
3. Ela faz de Deus um “estraga prazeres” – Isso também fica implícito quando Asafe afirma ser inútil servir a Deus. O Senhor não o estava deixando usufruir aquilo que ele merecia.
Podemos ver isso quando, em nossos dias, alguns dizem: Deus deu ao homem o desejo sexual, mas mandou ter relacionamento só no casamento; Deus deu ao homem o paladar e o proíbe a gula, etc. Isso não é novo, se você estudar as primeiras páginas da Bíblia verá algo parecido com isso: “Deus deu o melhor fruto, aquele que era bom para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento tornando o homem como ele, e os proibiu de comer” (Leia Gn 3.1-7). Sabemos como terminou isso.
4. Ela parte de uma leitura pontual da vida – Asafe só conseguia enxergar a sua situação atual. Não havia em sua mente passado ou futuro, gratidão por aquilo que já tinha recebido do Senhor ou esperança quanto ao que Deus haveria de ainda fazer. O que importava era simplesmente o presente. Não é sem razão que Paulo ensina no Novo Testamento que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19).
Foi por tudo isso que Asafe afirmou que sua atitude era a de um irracional. O pecado é sempre assim, irracional. Ele não parte de um entendimento correto, mas da completa falta de compreensão a respeito do caráter e das obras de Deus. Não foi à toa que Davi exortou seus leitores a não serem “como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9) e que Deus, por boca do profeta Isaías, disse a seu povo desviado: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (1.3).
O que trouxe Asafe à razão foi entender a vida numa perspectiva mais ampla e futura: “Até que entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios; [...] Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória” (73.17; 24). Esta vida e suas intempéries, diante da eternidade, não são nada. Ainda que tenhamos uma vida totalmente terrível (o que é improvável) diante da eternidade na presença bendita do Senhor não é nada.
A mudança de perspectiva faz com que ele também saiba que a satisfação verdadeira está no Senhor: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem me compraza na terra” (73.25) e que “bom é estar junto a Deus” (73.28), que é o verdadeiro refúgio. Essa é a satisfação que você também pode ter.
Não cometa o mesmo erro de Asafe. Em vez de se deixar enganar pela sedução do pecado, portando-se como um irracional, não se conforme com este século, antes, transforme-se pela renovação da sua mente, levando cativo todo o seu pensamento à obediência de Cristo, para experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (cf. Rm 12.2 e 2Co 10.5).
Milton Jr Extraído do blog E A Bíblia com isso?
 
http://bibliacomisso.blogspot.com.br/

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE A CERTEZA

Na publicação anterior do Sinclair Ferguson foi abordada a questão da segurança da salvação. Será que é possível ter a certeza dessa segurança da salvação? Bom,  alguns versículos tradicionalmente usados  indicam que sim. Vejam a Palavra pura e simples:



16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Jo 3: 16 - 19


24 Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida
Jo 5:24


10 Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho. 11 E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. 12 Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida.  I Jo 5  10 -11


8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.
.                                                     2Tm 4:8
21 Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro  Fp 1:21
1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Rm 8:1 
16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
                                                           Rm 8:17
  
 

35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?  . Rm 8:35


8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. 9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. 10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida;  Rm 5.11-10
 
Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1993; 2005, S.P.


quinta-feira, 28 de março de 2013

A maior de todas as “heresias” protestantes

por Sinclair Ferguson
Comecemos com uma pergunta de prova de história da igreja. O cardeal Roberto Belarmino (1542-1621) não foi uma figura para se desconsiderar. Ele era o teólogo pessoal do Papa Clemente VIII e uma das figuras mais capazes no movimento de Contra-Reforma no Catolicismo Romano do século dezesseis. Em uma ocasião, ele escreveu: “A maior de todas as heresias protestantes é ______________.” Complete, explique e discuta a afirmação de Berlarmino.
Como você responderia? Qual a maior de todas as heresias protestantes? Talvez a justificação pela fé? Talvez o Sola Scriptura, ou uma das palavras de ordem da Reforma?
Tais resposta fazem sentido lógico. Mas nenhuma delas completam a frase de Belarmino. O que ele escreveu foi: “A maior de todas as heresias protestantes é a certeza.”
Um momento de reflexão explica o motivo. Se a justificação não é apenas pela fé, apenas por Cristo, apenas pela graça — se a fé precisa ser completada por obras; se a obra de Cristo é de alguma maneira repetida; se a graça não é gratuita e soberana, então alguma coisa sempre precisa ser feita, ser “adicionada” para que a justificação final seja nossa. Este é exatamente o problema. Se a justificação final é dependente de algo que temos de completar, não é possível desfrutar da certeza de salvação. Pois então, teologicamente, a justificação final é contingente e incerta, e é impossível para qualquer um (à parte de uma revelação especial, concedida por Roma) ter certeza da salvação. Mas se Cristo fez tudo, se a justificação é pela graça, sem obras contributivas; é recebida pelas mãos vazias da fé — então a certeza, mesmo “certeza completa” é possível para todo crente.
Não me admira que Belarmino tenha pensado que a plena, gratuita e irrestrita graça era perigosa! Não me admira que os Reformadores tenham amado a carta aos Hebreus!
Eis o motivo. Conforme o autor de Hebreus pausa para respirar no clímax de sua exposição da obra de Cristo (Hebreus 10:18), ele continua seu argumento com um “pois” ao estilo de Paulo (Hebreus 10:19). Ele, então, nos urge a aproximarmo-nos “em plena certeza de fé” (Hebreus 10:22). Nós não precisamos reler toda a carta para ver o poder lógico de seu “pois”. Cristo é nosso Sumo Sacerdote; nossos corações foram purificados de uma má consciência assim como nossos corpos foram lavados com água pura (v.22).
Cristo se tornou de uma vez por todas o sacrifício por nossos pecados, e foi ressurreto e vindicado no poder de uma vida indestrutível como nosso sacerdote representativo. Pela fé nele, somos justos diante do trono de Deus como ele é justo. Por sermos justificados em sua justiça, sua justificação singular é nossa! E nós podemos perder essa justificação tanto quanto ele pode cair do céu. Assim, nossa justificação não precisa ser completada nada mais do que a justificação de Cristo precisa!
Com isso em vista, o autor diz: “com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10:14). A razão pela qual podemos ficar de pé diante de Deus em plena certeza é porque agora experimentamos nossos corações “purificados de má consciência” os corpos “lavados com água pura” (Hebreus 10:22).
“Ah,” replicou a Roma do Cardeal Berlamino, “ensine isso e aqueles que creem nisso viverão em licença e antinomismo.” Mas ouça, então, à lógica de Hebreus. Desfrutar desta certeza leva a quatro coisas: Primeiro, uma firme fidelidade à nossa confissão de fé apenas em Jesus Cristo como nossa esperança (v.23); segundo, uma cuidadosa consideração de como podemos encorajar uns aos outros ao “amor e às boas obras” (v.24); terceiro, uma comunhão contínua com outros cristãos em adoração e todo aspecto de nossa amizade (v.25a); quarto, uma vida na qual exortamos uns aos outros para nos mantermos olhando para Cristo e sendo fieis a ele, conforme o tempo de sua volta se aproxima (25b).
Esta é a boa árvore que produz bons frutos, não o contrário. Nós não somos salvos pelas obras; somos salvos para as obras. De fato, nós somos o trabalho de Deus trabalhando (Efésios 2:9-10)! Assim, ao invés de levar a uma vida de indiferenças moral e espiritual, a obra definitiva de Jesus Cristo e a plena certeza da fé que ela produz, fornece aos crentes o mais poderoso ímpeto para viver para a glória e o prazer de Deus. Ademais, tal plena certeza é arraigada no fato de que o próprio Deus fez tudo isso por nós. Ele revelou seu coração a nós em Cristo. O Pai não requer a morte de Cristo para persuadi-lo a nos amar. Cristo morreu porque o Pai nos ama (João 3:16). Ele não está à espreita atrás de seu Filho com um intento sinistro desejando nos fazer mal se não fosse pelo sacrifício que seu Filho fez! Não, mil vezes não! — o próprio Pai nos ama no amor do Filho e no amor do Espírito.
Aqueles que desfrutam de tal certeza não vão aos santos ou a Maria. Aqueles que olham apenas para Jesus não precisam olhar para nenhum outro lugar. Nele nós desfrutamos a plena certeza da salvação. A maior de todas as heresias? Se for uma heresia, deixe-me desfrutar da mais bendita de todas as “heresias”! Pois ela é a verdade e a graça do próprio Deus!
Extraido do Blog Fiel  

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